A Pedagogia do Amor

 

(Crédito da imagem: jornaldacidadegv.com.br/)

            Quanto mais investigo e estudo os acontecimentos ligados a Jesus, as suas atitudes e ensinamentos, mais a sua personalidade me fascina.

            Se continuasse convicta da divindade do Mestre, como ser especial parte de um Deus tripartido, como a religião da minha infância me ensinou, não conseguiria admirar mais este Ser magnífico do que hoje o faço, olhando-o como o Homem que foi.

Sinto profunda gratidão pela Doutrina Espírita que me “abriu os olhos” para a realidade de uma fé raciocinada, que me faz entender que Deus, o único Deus do Universo, é um ser único e indivisível, e que o Seu Filho é um filho que, como todos nós, igualmente Seus filhos, foi criado simples e ignorante e que, através das experiências vivenciadas ao longo dos muitos milénios, cresceu, se aperfeiçoou e chegou a uma perfeição e posição espiritual que, também um dia, pelo nosso próprio esforço, haveremos de alcançar.

Jesus em nada perde da sua especialidade ao ser visto como o Homem que foi. Um Homem grandioso, sublime, sábio, amável até ao limite, capaz de perdoar aos ofensores que amava incondicionalmente, independentemente da sua origem social, mas que reprovava severamente o erro. Um Homem, que na sua grandiosidade e sabedoria, cultivava a humildade sem submissões desajustadas e castradoras, porque não deixava nunca de aproveitar todas as oportunidades de recriminar as injustiças e os atropelos aos direitos humanos, tão comuns na sua época e, incrivelmente, tão presentes ainda nas sociedades atuais.

Li, recentemente, uma frase que, para mim, resume brilhantemente a ideia que tenho de Jesus, numa obra do psicólogo, psiquiatra e psicoterapeuta brasileiro Augusto Cury, “Autocontrolo (2016): “Nunca ninguém tão grande se fez tão pequeno para tornar os pequenos grandes”. Efetivamente, esta humildade do Mestre atrai-me. Quem maior do que Ele passou e viveu na Terra? Como Ele mesmo explicou, já estava à direita do Pai quando este mundo terreno surgiu, foi seu cocriador com Deus, é o seu Governador Espiritual, obedecendo diretamente às ordens Divinas. No entanto, nunca ninguém mais humilde por aqui passou e, simultaneamente, nunca ninguém teve tal poder de influenciar multidões, até aos dias de hoje, com a Sua Doutrina de Amor.

Não foram os “milagres” que fizeram Dele grande, embora, de certo modo, tenham servido para alavancar o despertar de um povo simples que, naquele tempo, primava pela ignorância intelectual. Mas eram, para além de tudo, um povo desesperado pela dor, pelas injustiças de que era alvo, pela exclusão e miséria social. Um povo que, no meio da dor e do desespero, recebeu o chamado do Amor.

Jesus tinha um método pedagógico infalível: a pedagogia do Amor. Em todos os Seus gestos e palavras transparecia um Amor incondicional pela Humanidade em geral e por cada um daqueles que cruzavam o Seu caminho, desde os discípulos aos mendigos e sofredores em busca de cura, consolo e esclarecimento; desde o ser mais miserável do ponto de vista da sociedade da época, passando pelos pecadores e gente de “mau nome”, até aos privilegiados socialmente, que, sem deixar de alertar para a vida enganosa que viviam, o fazia com a maior doçura e mansidão.

Não só preconizava que todos somos iguais perante o Pai, como tratava todos com a mesma deferência, equidade e justiça, tornando-se, com esse modo de proceder, o grande percursor da “moderna” e tão apregoada inclusão. Não houve, na realidade alguém mais inclusivo do que Jesus. Muito tem a aprender a moderna pedagogia com o exemplo e ensinamentos desse grande Mestre, e muito aprenderá quando se der ao trabalho de seguir os Seus passos. Toda a Sua mensagem de Amor e toda a Sua vida pública, tão repleta dos maiores exemplos de como atuar de acordo com o que se ensina (relação teoria-prática), deveriam ser a grande base para qualquer método pedagógico que se pretenda vivo, dinâmico, inclusivo, formador de cidadãos plenos.

Como estão longe os nossos métodos, que julgamos tão modernos e atuais, dessa pedagogia do Amor ensinada e vivida por Jesus, infelizmente!

Usar esta pedagogia, tomando o Mestre como referência, pautar a nossa atuação, perante as crianças e jovens que temos como missão encaminhar, nas escolas, nos jardins de infância, no seio das famílias, nas associações e agremiações desportivas, em qualquer lugar e situação em que somos chamados a viver e conviver com esses seres em formação, deveria ser o propósito de qualquer educador, professor, pai, mãe, dirigente, etc. Esquecemo-nos ou, infelizmente, nem sequer pensamos muito nisso, que o grande objetivo da educação, seja intelectual, moral, espiritual ou social é encaminhar para Deus os seres chegados à Terra, via reencarnação. Se Deus é Amor, é impossível chegar até Ele por outra via que não seja o Amor. 

Achamos que amamos os nossos pequeninos, e, efetivamente, amamos, mas de um jeito muitíssimo imperfeito e equivocado. Esquecemos, constantemente, o propósito da sua chegada ao nosso seio familiar e ao meio educativo onde os recebemos. Esquecemos o que é essencial e insistimos no supérfluo de um materialismo desregrado, insistindo em dar-lhes aquilo que nós próprios consideramos útil e imprescindível do ponto de vista de uma vida passageira e acelerada, educando-os para a competição, a ascensão social e, desde bem cedo, ensinamos que a felicidade só é alcançada a custo do “ter”, relegando o “ser” para um plano acessório. Essa forma de educação não é uma estratégia adequada, porque faz deles seres em busca do imediato, não os prepara para as realidades que vão ter de encarar ao longo da caminhada como seres imortais, afastando-os do real sentido da vida e levando-os a estacionar em vez de evoluir. Afasta-os dos objetivos com que reencarnaram e torna as metas a que se propunham, aquando do planejamento espiritual, muito mais distantes mais do que seria suposto e desejável.

Por outro lado, métodos educativos demasiado severos, frios, calculistas e pautados por regras desajustadas e insensíveis, o que também é mais frequente do que nos poderia parecer, não se adequam ao mundo de Amor que pretendemos construir. Este mundo de Amor, em que imperará o bem, parece-nos cada vez mais afastado da realidade atual. Se, por um lado, isso nos parece desse modo devido à dificuldade de abarcar o tempo milenar que a humanidade já viveu e “esquecemo-nos” muito das realidades do passado, não deixa de ficar também a dever-se à nossa incompetência como educadores, que não temos sabido conduzir devidamente as gerações que temos tido a nosso cargo. O Amor não é algo que se ensine exclusivamente através de palavras, embora a palavra seja também um imprescindível veículo pedagógico. Só se ensina verdadeiramente a Amar, amando. Jesus, desde cedo, aliou as palavras de sabedoria às atitudes demonstrativas desse Amor. Ensinou como fazer, fazendo. Em três anos de vida pública, ensinou e demonstrou conceitos e ideias que ficaram até aos dias de hoje e ficarão pela eternidade fora, sempre com a mesma adequação ao momento que corre, como se tivessem sido trabalhados para cada instante exato em que deles necessitamos.

Não é à toa que consideramos Jesus o Mestre dos Mestres. Grandes mestres e grandes pedagogos se têm sucedido na história terrena, mas mais não foram do que percursores do Grande Mestre dos Mestres. A sua vida, simples e humilde, funciona como um verdadeiro manual de pedagogia que não sai de prazo, não desatualiza e há de resistir ao avançar das ideias de todos os tempos.

Augusto Cury, supracitado, no seu livro “O Mestre Inesquecível, Jesus” (2013), que tem como foco formar educadores tomando com exemplo o trabalho do Cristo, chama-lhe o Mestre da Sensibilidade, da Vida e do Amor. É interessante ver como este autor, palestrante e formador, que não é espírita e, até há bem pouco tempo, se considerava ateu, se tem dedicado, nos últimos anos, ao estudo da personalidade de Jesus. Nos seus livros, da série Análise da Inteligência de Cristo, dedicada a esse tema, afirma: “Aprendi com o Mestre da Sensibilidade a navegar nas águas da emoção, a não ter medo da dor, a procurar um profundo significado para a vida e a perceber que, nas coisas mais simples e anónimas, se escondem os segredos da felicidade. Aprendi com o Mestre da Vida que viver é uma experiência única, belíssima, mas brevíssima. E, por saber que a vida passa tão depressa, sinto necessidade de compreender as minhas limitações e aproveitar cada lágrima, sorriso, sucesso e fracasso como uma oportunidade para crescer. Aprendi com o Mestre do Amor que a vida sem amor é um livro sem letras, uma primavera sem flores, uma pintura sem cores. Aprendi que o amor acalma a emoção, tranquiliza o pensamento, incendeia a motivação, rompe obstáculos intransponíveis e faz da vida uma agradável aventura, sem tédio, angústia ou solidão. Por tudo isto, Jesus Cristo tornou-se, para mim, um Mestre Inesquecível” (itálicos nossos). A dedicação ao estudo da personalidade do Mestre e as conclusões que desse estudo lhe advieram são um bom exemplo do que poderemos colher se nos aprofundarmos no conhecimento dos Seus ensinamentos, veiculados pela palavra e pela exemplificação do Amor.

No “Livro dos Espíritos”, de Alan Kardec, a pergunta 625 foi apresentada aos Espíritos nos seguintes termos: “qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo?”. A resposta foi dada numa única e significativa palavra: “Jesus”. Temos, nesta resposta, o resumo daquilo que a Humanidade precisa para avançar na caminhada evolutiva. Temos aí o mote para a adoção da estratégia educativa de Jesus, a Pedagogia do Amor, que nos ajudará a impulsionar as novas gerações a trabalhar na construção da sua personalidade e, consequentemente, na construção de um mundo melhor.

 

Bibliografia

Allan Kardec; O Livro dos Espíritos.

Augusto Cury; Autocontrolo.

Augusto Cury; O Mestre Inesquecível, Jesus.

 

 

 

 

 

 


HÁ DOIS MIL ANOS

 


“Não julgueis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.”

(Mateus, X: 34-35)

Eu vim trazer fogo à terra, e que quero eu, senão que ele se acenda? Eu, pois, tenho de ser batizado num batismo, e quão grande não é a minha angústia, até que ele se cumpra? Vós cuidais que eu vim trazer paz à terra?”

(Lucas, XII:49-51)

 

Há dois mil anos, esteve Ele entre nós

Trazendo uma Doutrina de Verdade

Que, qual fogo, deveria irradiar

Luz e Amor para toda a Humanidade.

 

Fundamentos de uma Era Futura,

Sementes a germinar Felicidade,

Espada do Amor a simbolizar

Lutas contra as amarras da maldade,

 

Que a nós trazíamos acorrentadas,

E que ainda não soubemos desprender.

Sem nada conseguirmos entender,

 

Saímos com a espada das cruzadas!

Quando iremos nós, finalmente, ver

Que essa luta é no imo de cada ser?!


EVOLUÇÃO... OU REGRESSÃO?

Somos constantemente confrontados com esta questão, quer nas nossas reflexões pessoais, quer em conversas com amigos e conhecidos. São mui...