“Orai e
Vigiai” (Jesus,
Mateus, 26:41)
Para o
crente de qualquer credo religioso a convicção do valor da Prece ou Oração,
como queiramos chamar ao ato de nos colocarmos em sintonia com as Forças Maiores
da Vida, é fundamental. Entretanto, a compreensão sobre o que acontece durante
esse ato, a forma como deve ser feita e o seu alcance difere, consoante o
entendimento mais ou menos lúcido com que é apresentada pelos diversos credos.
Para
uns é uma comunhão direta com o próprio Criador; para outros uma sintonização
com o Universo; para uns não passa de fórmulas “mágicas” que se vão repetindo
de forma mecânica e rotineira, e que, mesmo sem que haja absoluto entendimento
do seu significado, servem para cumprir um dever religioso; para outros, são
palavras saídas do coração e da necessidade de cada um, através das quais
visamos ser ouvidos por Deus ou pelo Universo, conforme a conceituação
individual; para alguns, usa-se a prece quando estamos na condição de
necessitados e nos lembramos de Deus; para outros é uma tentativa de negociação
com a Divindade (prece/promessa/eu faço se me atenderes); para uns carece de
dia, hora e lugar apropriado (igreja, templo…) para ser feita e ouvida; para
outros é uma comunhão total que independe de logísticas ou palavras, pode ser
apenas e simplesmente pensamento.
E para
si, o que é a Prece? Para si o que significa Orar?
O que significa a Prece, de acordo com os postulados
Espíritas?
Para
entendermos esta questão, e para melhor compreendermos o conselho do Mestre
Jesus “Orai e vigiai”, em todo o seu significado, é importante que tenhamos em
consideração alguns aspetos prévios.
O
Fluido Cósmico Universal
Encontramos
várias referências a este Fluido na Codificação.
“A
substância etérea, mais ou menos rarefeita, que se difunde pelos espaços
interplanetários”; “(…) a matéria elementar primitiva, cujas modificações
constituem a inumerável variedade dos corpos da Natureza” (A Génese); “(…) desempenha
o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita” (O
Evangelho segundo o Espiritismo); “(…) o princípio elementar de todas as coisas”
(O Livro dos Médiuns).
Podemos
dizer que tudo quanto existe se origina neste Fluido, ele é a matéria elementar
primitiva, que tem a sua origem em Deus. É nele que o pensamento se expande,
ele serve-lhe de veículo, como o ar é o veículo do som. Mas, ao contrário deste
último, que é limitado no espaço, as vibrações do Fluido Universal ampliam-se
ao infinito. Deste modo, é através destas vibrações que, pelo pensamento
encarnados e desencarnados entram em comunicação. É através dele que, pela
força da nossa vontade, o nosso pensamento percorre as regiões do infinito e
vai de encontro à quele ou àqueles a quem a nossa Prece se dirige.
Diz-nos
Kardec que “É assim que a prece é ouvida pelos Espíritos onde quer que eles
se encontrem; é assim que os Espíritos se comunicam entre si, que nos
transmitem as suas inspirações, e as relações que se estabelecem à distância
entre os próprios encarnados.”
É através desse fluido que a prece, ou um
simples pensamento é recebido por aqueles com quem nos afinizamos e que nos
ouvem e acorrem a atender-nos. Essa ideia vale para as Forças do Bem, mas
também para os irmãos sofredores ou ignorantes que, recebendo os nossos
pensamentos negativos ou maldosos, também eles acorrem ao nosso encontro. A Lei
de Afinidade vale para o bem e para o mal. Temos sempre connosco aqueles que
chamamos pela força dos pensamentos que emitimos em redor e que são
transportados através do Fluido Universal.
Estando
em constante sintonia com tudo o que nos rodeia, jamais estamos sós. Sem que
nos apercebamos, temos a presença constante, junto de nós, daqueles que
chamamos pelo pensamento, mesmo que não seja essa a nossa intenção direta. É
necessário que tenhamos consciência de que, quando deixamos as ideias vaguearem
sem rumo, estamos a emitir intenções, fazer planos, percorrer distâncias,
viajar até forças que se “alimentam” das nossas ideias, tendo, inclusive,
capacidade para as pôr em prática, muito mais do que nós mesmos, ou até do que
gostaríamos que acontecesse. Dizemos, muitas vezes “Eu não fiz, foi só um
pensamento”, sem imaginar a força que esse pensamento poderá ter tido e os
desenvolvimentos que poderão ter havido a partir dele. Também dizemos que “Parece
que o meu pensamento foi lido por alguém”, sem ter noção do quão verdadeira
poderá ser essa afirmação.
A
necessidade de sintonizar com as Forças do bem
O
“Orai e vigiai” de Jesus prende-se com essa ideia. Vigiai as vossas atitudes;
vigiai as vossas ações; vigiai os vossos desejos e aspirações; mas, vigiai também
o vosso pensamento. O que pensais percorre o espaço e vai ao encontro de quem pode
tornar real o que pensais.
Dada
esta enorme força e poder do pensamento, e a rapidez com que se propaga e
desencadeia ações reais, é grande a necessidade de sintonizarmos com as Forças
do Bem, que nos podem proteger, amparar e ajudar nas boas realizações. Pela
Prece, construímos barreiras de proteção contra as forças negativas que nos
invadem e contra os pensamentos invasores. Pela Prece, fortalecemos a vontade e
colocamo-nos aptos a receber as inspirações do Bem. Pela Prece, colocamo-nos em
sintonia com a Alta Espiritualidade.
Todos
sabemos que atravessamos um período complicado na senda evolutiva da Terra e na
nossa própria evolução. É tempo de fazer escolhas. É tempo de escolher as
companhias com quem queremos permanecer e caminhar. E sabemos, porque a
Doutrina que abraçamos nos ensina e nos proporciona abençoadas reflexões, que
as companhias que nos devem preocupar não são as exclusivamente encarnadas na
matéria. São companhias muito mais abrangentes, invisíveis aos nossos olhos,
mas vivas, pensantes, inteligentes e atuantes, prontas a influenciar-nos e a
ser também por nós influenciadas.
Falámos,
acima, dos pensamentos invasores. Importa termos presente que, havendo a
possibilidade de influenciação por forças diversas, nem sempre o pensamento que
nos acorre de imediato, perante uma ou outra circunstância, será inteiramente
de nossa autoria. Como identificar e distinguir o que/não é nosso? Como nos
precavermos contra os que são de influenciação externa? Como afastar o que não
nos convém?
Jesus
tem a resposta. Jesus é a resposta. Orai e vigiai, foi a solução
que nos apontou.
Maria de Lurdes Duarte, março de 2025